Adolfo Fetter Júnior
Paulo Pinho, sobrevivente do "dilúvio"
Por Adolfo Fetter Júnior
A segunda-feira (25) à tardinha, o engenheiro Paulo Pinho, servidor da Prefeitura há 50 anos (completados em março deste ano) passou por uma situação inusitada e perigosa. Responsável pela manutenção e reconstrução de pontes na área rural, estava vistoriando os estragos causados pelas chuvas em ponte no arroio Santa Maria quando, ao estar sobre a mesma, acabou sendo traído por uma viga solta e caiu no leito do arroio, ainda em forte enchente.
Segundo me foi passado, a queda de cerca de um metro foi na água (com uns três metros de profundidade) e foi levado pela correnteza. Seu instinto de sobrevivência o fez emergir e buscar a margem do arroio até conseguir atingi-la, muitos metros depois do incidente, episódio que foi assistido por comitiva de cerca de dez pessoas assustadas com a situação.
Ao estar seguro e constatado que, passado o susto, não tinha se machucado seriamente, mas apenas perdido o celular, a prefeita lhe disse que ele “tinha nascido de novo”, ao que, com seu bom humor característico respondeu que “tinha tentado colaborar para a redução das despesas da folha salarial, sem isto ter sido possível”.
Quando tomei conhecimento deste incidente, tentei falar pessoalmente com ele, o que só consegui na sexta-feira seguinte, quando já tinha comprado celular novo e me relatou o ocorrido, alegre que, graças à “nuvem”, tinha conseguido recuperar fotos e contatos, menos as ligações e mensagens durante a semana.
Entre os múltiplos assuntos que tratamos em longa e divertida conversa, graças à sua atitude jovial apesar dos 75 anos de idade, aproveitei para perguntar sobre os estragos causados pelas persistentes e volumosas chuvas em nossa área rural, quando ele fez uma síntese do que tinha vistoriado em variados pontos e as ações que serão necessárias para esta recuperação, bem como das estradas e prédios na nossa colônia.
Ainda perguntei se alguma das 47 pontes de concreto que construímos em 2010 e 2011, para recuperar os estragos das fortes chuvas que nos assolaram em janeiro de 2009 (tinha chovido mais de 400 milímetros em 24 horas), ele me respondeu que todas tinham resistido a tantas intempéries desde então, graças aos projetos bem elaborados que foram feitos na época por empresa especializada e com experiência em estradas federais, a partir de levantamentos hidrológicos e do estudo do solo em cada uma delas, sob sua orientação.
Respirei aliviado com isto, pois sabia do caso de prefeito anterior que tinha feito uma ponte de concreto na área rural e que tinha sucumbido em 2009 e também foi feita novamente, além do que em nossa região colonial contávamos anteriormente com apenas 12 pontes de concreto e muitas delas antigas, como a que servia à ferrovia e que continua sendo utilizada até hoje.
Em síntese, não apenas não se assustou com o incidente, que poderia ter lhe custado a vida, como no dia seguinte já estava trabalhando na Secretaria de Desenvolvimento Rural, nos dando um exemplo vivo de sua dedicação ao importante trabalho que desenvolve há décadas, em muitas administrações que se sucederam nestas cinco décadas.
Por tudo isto, não me contive e resolvi compartilhar este assunto, para que nossa comunidade reconheça seu valor e comprometimento, homenageando um servidor público que já poderia estar aposentado, mas que segue dedicado a colocar seu conhecimento e larga experiência no assunto para a reparação de danos, sendo um arquivo vivo do poder público municipal no enfrentamento diário, na manutenção de tantas pontes, mas, acima de tudo, nestes momentos emergenciais de sérios transtornos causados pelo clima.
Aliás, relembramos seu irmão, o médico Antônio Pinho, que durante muito tempo escreveu colunas na imprensa relatando, entre outros assuntos, diversos “causos” que colecionava. Como ele não mais está entre nós, em reconhecimento aos dois, resolvi assumir o papel de relatar o ocorrido, para que não seja esquecido e possa servir também para homenagear tantos outros que se dedicam nestas horas difíceis a ajudar os outros em diversas áreas, como assistência social, educação e saúde.
Também, da mesma forma humorada que o Pinho me contou isto que resumo e apesar de tantos problemas sérios que estão sendo enfrentados pela população com alagamentos e destruição de bens de muitos além dos transtornos nas vias públicas e prédios, brinquei com ele que tinha “enfrentado o dilúvio” e, portanto, a partir de agora, o chamaria de “Noé pelotense”.
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